Estava sentado no banquinho da praça desligado do planeta, exceto pelo ventinho e o sol teimando em atravessar os escuros óculos.
Psiu, fez a senhora no banco ao lado.Um pouco cismado (não são só os animais que têm o prudente medo do bicho homem), atendeu ao pedido e avizinhou as nádegas lá do ladinho.
Em tom de clarividência perguntou se era paulista. "Essa velha quer me comer, só pode".Sim, respondeu, foragido.
Sem coordenação suficiente nas mãos, a estranha pediu que pegasse o isqueiro e o cigarro. Mesmo odiando esse tipo de incenso, acendeu só para ver aonde daria (câncer!, torceu sombriamente).
Já íntima, contou que tinha depressão e que estava esperando não sei o que para ir no aniversário da filha. Devia ser mais uma daquelas que a velhice e a decepção tirou o juízo para lhe conceder no imaginário aquilo que não conseguiu colocar em seu enredo mundano...
Ouviu-a até o silêncio e a vontade de voltar à brisa solitária vierem. Logo não titubeou muito em fingir chegar alguém que esperava.
Você pode me dar um abraço? Não, isso eu não posso não, senhora. E despediu-se.
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