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sábado, 18 de junho de 2011

"Uma ilha cercada de ignorância por todos os lados"

A intenção do projeto "Escola Sem Homofobia", apesar de vir com atraso, era louvável: conscientizar e preparar professores e a própria escola a lidar com a diversidade sexual, a combater o bullying a que são submetidos alunos LGBTs nas escolas.

Bullying homofóbico nas escolas

Porém, saiu pela culatra (ui!). Apesar de considerado adequado, segundo a Unesco, o material a ser distribuído caiu como uma luva para conservadores radicais e mesmo moderados. Foi estupidamente apelidado de "kit gay", como se houvesse uma intenção doutrinária de "converter" crianças a um "gayzismo". Resultado: polemização eleitoral perfeita em 2011, seguida de engavetamento da ideia.

Um vídeo que um desavisado me enviou por email consegue condensar a alienação e alguns dos absurdos que se ouve, onde o preconceito previsivelmente beira o delírio. Resolvi assistir, só pra ver até onde vai a imbecilidade humana.

Vi que a boçalidade leva a criticar até a Educação Sexual nas escolas, como se o público alvo fossem "criancinhas", quando a matéria é dada pra adolescentes - os quais, se saem por aí fazendo filho cedo ou contraindo DTS (como AIDS) é justamente por falta de educação, e não por excesso de informação.

No geral, tudo apoia-se em dois pilares: contranaturalidade e religião, escolha (ou doença) e pecado.

O primeiro argumento ignora a diversidade sexual no Reino Animal, que opera por instinto e sem nossas distorções culturais. Há uma bobagem impregnada no senso comum, que recusa enxergar que ninguém opta por uma sexualidade, esse nosso lado instintivo - até porque seria meio imbecil escolher algo que vai te fazer sofrer a vida toda com preconceito, inclusive da própria família. É insano que essa suposição seja tomada como justificativa para marginalizar.

O segundo ignora que crença é algo íntimo, individual, não algo que se imponha a terceiros. O ódio é utilizado pelos mercadores da fé e/ou fundamentalistas como instrumento de marketing para vender algo que, em tese, prega o amor - e essa gente não tem pudores em distorcer, omitir e serem levianos, aplaudidos por um público que compra a ideia e faz a propaganda boca-a-boca. Isso eles querem ensinar nas escolas, a propagar o ódio via doutrinação religiosa...

Se fosse uma questão de escolha, poderia mudar seu gosto a qualquer hora? Nem se a mamãe pedir? Não, né? Então não é questão de escolha... Muitas pessoas chegam a ceifar a própria vida por não saber lidar com isso, com as dificuldades e rejeição - então, muito cuidado quando disser: "prefiro um filho morto do que..."

Conclui-se, daí, que as "crianças" devem ser protegidas - exceto as que sofrem bullying, claro. Parece imperar o achismo de que sexualidade é algo transmissível como uma gripe por espirro. Chega a ser hilário: ninguém vai virar "viado" lendo um texto, vendo um vídeo ou tendo uma amiga "sapatão", tampouco tendo professores ou alguém próximo assim - senão, não existiriam gays, filhos de casais heterossexuais (ou estou louco?). Não que o material do kit seja um espetáculo didático - na verdade (minha opinião) é até bobo/fraquinho, chega a ofender a inteligência da molecada... (google!!!)

Ainda que fosse uma opção, esta seria legítima! Que tenho eu a ver com algo que não interfere em minha vida e nem prejudica ninguém? Por exemplo, há gente que adora uma casquinha de siri. Eu acho nojento e a até a bíblia condena (risos), mas isso me dá o direito de constranger essa pessoa?

Afinal, qual o problema de se discutir segregação social e formas de violência gratuita nas escolas? A ignorância* certamente não contribui para uma sociedade melhor.

*Do lat. ignorantia, diz o Aurélio, entre outras coisas: "estado de quem ignora ou desconhece alguma coisa, não tem conhecimento dela".

Recomendo:
A frase-título é do Dr. Dráuzio Varella, que escreveu um artigo bem lúcido sobre a Violência contra homossexuais.