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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O diálogo das andorinhas

Comentava com uma amiga o quanto me fez falta alguém com mais experiência pra dar “uma luz” enquanto ia descobrindo meio incerto o que fazer sobre o fato de ser algo "diferente" dos demais garotos em minha infância/aborrescência. Mais complicado ainda quando se cresce numa cidade minúscula de interior, com família tradicional – em tempos em que a internet era um vulto. Não tinha com quem falar e os medos e a ansiedade, entre várias outras coisas, não deixam a gente pensar direito. Amigos, família, outros grupos sociais: as conquistas vieram aos poucos, mas poderia ter sido uma trajetória mais suave. Por isso, sem arrogância, frequentemente me disponho a ser esse alguém que não tive.

Acho que todos que já superaram essa fase não podem se omitir a prestar solidariedade, apoio, compartilhar, sobretudo com quem ainda não se resolveu, pois: de que adianta discutir dignidade, respeito e direitos se muitos enxergam seus pares como “indignos” (rejeitando inconscientemente a própria identidade)?

Fácil certificar que não há exagero nesta abordagem. Basta perguntar por aí: "O que você acha do 'mundo gay?'", e calcular estatísticas. Pelas minhas contas pessoais...

Ainda é muito forte a internalização da visão negativa que a sociedade tem, assim como o machismo: são incontáveis os que estão angustiados com sua inadequação a um papel heteronormativo e misógino que desloca até mesmo heterossexuais.

A promiscuidade e a subversão então são assimiladas e apontadas com repulsa como sendo O padrão de comportamento/personalidade (sempre do próximo), chegando-se ao absurdo da culpabilização das vítimas – de maneira semelhante ao que ocorre com mulheres violadas covardemente em estupro: “não (se) respeitaram”, “deram motivo” (!).

Sendo assim, o diálogo não pode restringir-se exclusivamente a demandas políticas de mudança (Legislação, Políticas Públicas); tampouco é razoável dirigir-se apenas ao coletivo geral e sem rostos esperando que a consciência e então o respeito social sejam a norma, pois se trata de paradigma/tabu que ainda demorará a ser movido para o arquivo de coisas vergonhosas da história.

(Não é à toa que qualquer Política Pública com iniciativa de combate ao preconceito via Sistema Educacional seja ferozmente combatida. Aceleraria radicalmente o processo.)

A relevância e mesmo urgência desse diálogo politizado são inquestionáveis; os avanços são inquestionáveis. Como seria se não houvesse essas pessoas que se doam mesmo sendo ofendidas, perseguidas, ameaçadas? São as andorinhas que fazem a diferença.
Andorinhas

Porém está faltando um elemento essencial na comunicação feita por aqueles corajosos que são atuantes, pelos grupos mais organizados; falta um diálogo interno apaziguador, uma conversa sem floreios, franca, próxima e íntima com estas pessoas para mostrar o ser humano que existe sob a capa de fantasma com que nos cobrem. É algo que, salvo iniciativas dispersas, não vejo sendo feito em uníssono senão por grupos religiosos, conservadores, com intenções bem conhecidas: perpetuar o ódio.

A presença de personalidades formadoras de opinião (como artistas e atletas) declaradas abertamente LGBT na mídia de certo modo serve ao papel de desconstrução dessa autoimagem negativa, por ilustrar realidade distinta do submundo. Mas ainda não preenche a lacuna, até por serem realidades um pouco distantes do cotidiano comum... (E as que não são LGBT, apesar da importância social, não trazem o discurso a que me refiro).

Pra completar, há um debate quase obsessivo acerca da sexualidade ser ou não uma escolha/opção pessoal... Parece não haver a percepção de que dizer a quem está acuado que “ei, você nasceu assim” não dissolve os estereótipos per si, não muda a concepção do que a vida reserva.

É o que promoverá diminuição do preconceito interno e um maior engajamento: difundir uma visão mais realista -e portanto mais humana- de uma sexualidade tão marginalizada por supostos "crimes" e "pecados" e, assim, fazer perceber que há um outro mundo possível e desejável.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Cotas e Tetas

Doa a quem doer, é a tendência que tem soprado nos ares das políticas públicas tupiniquins. Primeiro a polêmica das cotas raciais no Ensino Técnico e Superior. Agora a bola da vez é o quadro de servidores públicos - sonho de muita gente que enxerga aí a chance de mudar de vida e tenta a sorte em concursos, já que o mercado de trabalho é uma selva que nem paga lá aquelas coisas e no Governo os rendimentos de alguns cargos (+ estabilidade +benesses) inspiram a expressão "mamar nas tetas".

Ontem, a nossa presidente Rousseff assinou uma mensagem ao Congresso Nacional enviando projeto de lei que reserva para negros 20% das vagas em concursos públicos de órgãos do Governo Federal. Os aplausos à iniciativa, na III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir), não ecoam entre as opiniões divididas dentro e fora do Congresso.

(Antes de prosseguir é importante destacar que o Brasil é signatário de tratado da Convenção Internacional Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, o qual exclui essas políticas como racismo)

Será que a questão racial é mesmo um impedimento à igualdade de oportunidade (para adentrar no serviço público) ou uma miragem de quem tomou muito sol na cabeça?


No concurso ninguém olha o seu tom de pele, quiçá checando a foto do RG quando você assina a lista da sala de provas; vale a meritocracia, especialmente em se tratando de concursos para Nível Superior.

No nível médio não creio ser tão "absurda" a ideia, mas: se a justificativa é abrir oportunidade para quem não teve acesso a Educação e preparo decentes, por que não reforçar os critérios Renda e formação em escolas públicas, já que a desvantagem tem pano de fundo Social?

(Não, com essas observações não estou negando que pessoas de cor negra foram vítimas de exploração histórica -inclusive por seus pares- e são vítimas de Racismo; apenas afirmo que igualam-se na vala social em que estão mulatos, pardos e, sim, brancos também. Portanto, não estaria me contradizendo ao sugerir que medida similar na iniciativa privada poderia ser positiva: a fixação de um X% de reserva a partir de determinado nº de funcionários, assim como já é feito com "portadores de necessidades especiais" - obviamente não porque ser negro é uma deficiência, mas por semelhantes dificuldades no acesso ao mercado de trabalho)

Importante ressaltar que os aprovados, por cota ou não, passam por Estágio Probatório (que elimina quem não tem competência na prática). O argumento de que cotas piorariam a qualidade dos serviços públicos não se sustenta.

Cota por "cor" (ou "raça") é uma máscara ridícula para a péssima qualidade na Educação e condições sociais dessas pessoas. E é ótimo instrumento para engrossar as linhas divisórias que aqui e ali nos segregam...

Políticas de proteção a segmentos da sociedade vulneráveis são importantes. Porém, a melhor forma de corrigir distorções é estruturar eficaz e eficientemente a Educação (e blindar legalmente contra a perseguição por preconceito). Pela raiz.

É fato que o acesso ao Ensino Público foi ampliado, e "bolsas" disso e daquilo contribuem pra tanto, mas é um ensino que produz analfabetos funcionais.

E assim vai prosperando a t(r)eta de nossos honoráveis políticos.



Referências:

domingo, 15 de setembro de 2013

Eu sei, mas não devia

E assim arrancaram-se os dentes do sono que começara a morder na madruga...
Daí a gente vai pra cama com este "sono banguela", que ficará a chupar, amolecendo as carnes aos pouquinhos, feito a 20ª bolacha de maizena quando o céu da boca está todo machucado.
(Ou)vi dizer uma vez que ir dormir com um sorriso no rosto ajuda a ter bons sonhos. Não deixemos de sorrir antes de dormir.



"Eu sei, mas não devia" de Marina Colasanti recitado por Antônio Abujamra no Provocações:
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

sábado, 11 de agosto de 2012

O salto alto masculino está voltando?

Se lhe pedissem para descrever a primeira coisa que lhe viesse à mente ao imaginar um macho da nossa espécie equilibrando-se sobre um sapato com salto alto, provavelmente ocorreria uma dessas duas cenas:
1 - o pobre indivíduo em briga para manter-se de pé feito peão montando cavalo bravo;
2 - alguém de cabelos compridos, saia?, maquiagem e voz mais difícil de disfarçar quanto o "pacote" do sujeito (no caso de não ter feito vaginoplastia).

Estivéssemos na Roma antiga, seriam prontamente identificadas como prostitutas as mulheres ou as representantes desse "terceiro sexo" que desfilasse suas pernas sobre essas peças de tortura da moda. Quase um crachá de "profissional do séquiçu" (sic) - profissão legalizada por lá, naquela época, diga-se de passagem. Hoje em dia são estigmatizadas independente do que calcem...

Em geral, o sapato (e salto) em diversas culturas, oriental, ocidental (incluindo a romana), distinguiam as classes mais altas das demais (mais alto, mais importante). Não era mera expressão de feminilidade, mas de poder. Assim, não é de se espantar que homens usassem e ostentassem salto alto, em especial os baixinhos.

O estiloso Rei-Sol (Luiz XIV, França, séc. XVII), devido à posição que ocupava, é dos casos mais notórios da nobreza elevando os calcanhares. E justamente por remeter à nobreza, à aristocracia, decaiu definitivamente no gosto masculino com a Revolução Francesa (séc. XVIII).

Resgatado entre as mulheres, é hoje tabu entre homens. Nenhum, que não se travista de mulher, arriscaria imitar Carrie Bradshaw (personagem do seriado Sex And The City) e colecioná-los como se fossem selos pra combinar com a camisa do dia.

Porém, como o relacionamento do bicho homem com o besteirol a que chamamos Moda é tão cheio de idas e vindas quanto político corrupto, aquela peça cafona cheirando a naftalina no guarda-roupas pode voltar um dia. Naftalina é o cheiro do "novo". Será? Será que um dia desses a machaiada volta ao salto? (cá entre nós, prefiro patins ^^)

Perceba o que vem ocorrendo com os tênis de marca (e os vira-latas também), os amortecedores a mola, a ar, a qualquer coisa. Não acredito que haverão ao montes nas ruas rapazes como os do Kazaky (aquele grupo narcisista se requebrando com Madonna no videoclipe da música "Girl Gone Wild"), mas...

sábado, 26 de maio de 2012

Gravata: Boa Constrictor

tie snake

Sem cinto as calças caem, o que é bastante desagradável. Sapatos separam os pés do chão,meias separam os pés dos sapatos. E ainda diminuem o chulé, o que não é pouco. Calça, camisa, cueca ­ entendo perfeitamente bem a razão para usar essas coisas. Mas... para que diabos serve a gravata? Já me disseram que é para esconder os botões da camisa. Arrã. Então tá. Quer dizer que esse pessoal bem arrumado usa gravatas de seda de 300 reais porque morre de vergonha de exibir botões de plástico. Por 300 reais deve dar para fazer botões de rubi.

Calma, calma, elegante leitor. Não estou dizendo aqui que acho que as roupas só valem pela utilidade delas. É claro que eu entendo a importância da moda ­ embora tenha de confessar que nunca me dei muito bem com ela nem ela comigo. Roupas servem para um monte de coisas além de proteger e esconder o corpo ­ elas definem identidade, denotam estados de espírito, passam mensagens. Será que é para isso então que serve a gravata? Para passar uma mensagem?

É claro que sim, e não tenho dúvida sobre qual é a mensagem. Aquele pano pendurado no pescoço grita para quem estiver por perto: “Ei, olha aqui como eu sou importante!” É um código simples, rápido, direto, que todo mundo entende na hora: no meio da multidão, os que estão de gravata são dignos de atenção, de direitos, de mil gentilezas e mesuras. Os de gravata comandam. Os sem gravata obedecem. É assim. Não é à toa que agora tem essa moda de engravatar os seguranças particulares. rolleyes

Não é engraçado que coisas assim ainda existam em nossa sociedade? Gostamos de achar que tudo em nosso mundo ­ ocidental, urbano, secular ­ é racional, democrático.Mesmo assim, continuamos usando sinais bem pouco sutis de diferenciação social, como naquelas sociedades que gostamos de chamar de “primitivas”. É quase como se fôssemos trabalhar de cocar e contássemos com atenção as penas do sujeito ao lado para saber se ele vale mais ou menos do que nós. Bizarro, enfim.

Por favor, não me entenda mal. Não estou aqui declarando guerra às gravatas, nem aos usuários delas. Uma das utilidades das roupas, que eu não mencionei lá em cima, é deixar as pessoas confortáveis, e tem muita gente que só se sente confortável de gravata. Eu, com essa minha mania de ser do contra, já passei muitas vezes pela sensação de ser o único sem gravata num lugar. Sei o quanto isso pode ser desconfortável, mais até do que o sufocamento do colarinho. Cada um cada um, já dizia minha avó. Que use gravata quem quer.Mas será que ainda faz sentido que algumas empresas continuem exigindo que as pessoas enrolem o pescoço num trapo apertado ao acordar de manhã? Será que ainda faz sentido que nós continuemos medindo o valor das pessoas pela quantidade de penas no cocar? ("Acabo de lançar uma campanha cívica. Desengravatemos nossas vidas!", por Denis Russo Burgierman)

Faltou acrescentar o descabimento de usar determinadas vestimentas e acessórios em determinado clima... Assim como carregar sobre o nariz um par de óculos escuros em plena noite (a não ser que você seja Bono Vox diante dos refletores em algum show)

Relacionado:
Gravata surgiu para limpar suor e virou símbolo do poder masculino, por Giovana Sanchez, no G1: "O homem enrola e amarra pedaços de pano ao redor do pescoço há centenas de anos(...)"

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Tara Silvícola

Até onde é interessante aquele olhar através dos óculos escuros? Com que freqüência mesmo aquela lingerie matadora ilustra fantasias? Se tudo se acaba naquele momento em que você pega no cabelo duro moldado por gel, laquê... Naquele aroma de essência amarga no lugar do cheirinho quente do pescoço... (Ou numa conversa insossa, com menos sorte )

Nada como o cheiro natural, o gosto de boca e aquele abraço-gostoso-de-abraçar... O resto é engenharia...

O odor perfumado não é apenas misofobia [aversão ao sujo, a germes], mas um complemento ao culto ao corpo "perfeito", cabelos bonitos, roupas bonitas, atitude isso e aquilo, do melhor "produto" para consumo/desejo.

Cuidar-se, fazer uns afagos ao ego e sentir-se bem e seguro consigo mesmo é saudável, é demonstração de um pouco de amor próprio até. De novo: até que ponto?

Eu acho legal despir-se dos cosméticos um pouco, o que inclui não se encher de cremes pra ir dormir... (Rir também enruguece, e aí? ) Pôr aquela camiseta velha, chinelos, aquele short conveniente [?], ou simplesmente jogar-se nu a pele e pêlos (pêlos?), sem pudores... Afinal, tal coisa "dispensa fardamentos" (sic).

Há outras bobagens, como a que ouvi hoje:
_ A gente fala "sexo" pra algo mais casual; com quem a gente gosta a gente faz "amor", disse Fulano.
_ Aham... Tá bom que só porque gosta você vai puxar o cabelo, falar putaria, até cuspir lá e vai chamar isso de "fazer amor"..., disse o Beltrano aqui.

Maqueagens sociais que nós, bobos macaquinhos pelados, vamos inventando pra tornar o mundo civilizado mais chato...

domingo, 4 de março de 2012

Coisas Pequenas

Trocava figurinhas sobre despesas e custos - fixos, variáveis, diretos, indiretos. O tom, entre solícito e bazófia, era sobre matéria boba de prova importante. Tentava graduar-se nessa profissão que beira o abstrato e o misticismo, a do Administrador.

O outro emendou metido num monólogo, entre suas orelhas deselegantemente acorrentadas ao smartphoMe, enumerando objetivos "de vida". Inglês, Excel, pós-graduação, aprender a mexer na calculadora HP, e beber e comer todas na balada do fim de semana... E isso arrancando bocejos daqueles que mal cabem na boca.

De quem? Não do interlocutor. Este, como a maioria adestrada de nós, socializava com um belo sorriso de aeromoça, esperando sua vez de retomar a prosa. Quem estava com as nádegas inquietas na poltrona à frente, procurando posição para cochilo até a próxima estação, era o pobre ouvinte que compartilhava passivamente o diálogo no vagão do metrô paulistano.

Tão impregnada essa cultura do sucesso, da performance pessoal, laboral, sexual, que até sinto remorso pelo desinteresse. "Sem isso você não será alguém" (?!) Nascemos pra "realizar" e consumir - alimento, entretenimento, coisas, pessoas... Vícios...

Gosto deixar em aberto (não muito seriamente) a possibilidade de vender côcos e bijouterias nalguma praia Brasil afora. Mas nem sei artesanato - a menos que arte no Photoshop o seja considerada.

Estamos todos tão escravos do utilitarismo, um dos itens da sopa intragável da socieade que criamos e que nos causa tanto estresse, que até o silêncio está sendo esquecido, por "inútil"...

Coisas Pequenas

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Fazer o que se Gosta

Lembrei ontem de um artigo de Stephen Kanitz que li (e releio) há anos.
Pra guardar mesmo:

A escolha de uma profissão é o primeiro calvário de todo adolescente. Muitos tios, pais e orientadores vocacionais acabam recomendando "fazer o que se gosta", um conselho confuso e equivocado. 

Empresas pagam a profissionais para fazer o que a comunidade acha importante ser feito, não aquilo que os funcionários gostariam de fazer, que normalmente é jogar futebol, ler um livro ou tomar chope na praia.

Seria um mundo perfeito se as coisas que queremos fazer coincidissem exatamente com o que a sociedade acha importante ser feito. Mas, aí, quem tiraria o lixo, algo necessário, mas que ninguém quer fazer?

Muitos jovens sonham trabalhar no terceiro setor porque é o que gostariam de fazer. Toda semana recebo jovens que querem trabalhar em minha consultoria num projeto social. "Quero ajudar os outros, não quero participar desse capitalismo selvagem." Nesses casos, peço que deixem comigo os sapatos e as meias e voltem para conversar em uma semana.

É uma arrogância intelectual que se ensina nas universidades brasileiras e um insulto aos sapateiros e aos trabalhadores dizer que eles não ajudam os outros. A maioria das pessoas que ajudam os outros o faz de graça. 

As coisas que realmente gosto de fazer, como jogar tênis, velejar e organizar o Prêmio Bem Eficiente, eu faço de graça. O "ócio criativo", o sonho brasileiro de receber um salário para "fazer o que se gosta", somente é alcançado por alguns professores felizardos de filosofia que podem ler o que gostam em tempo integral.

O que seria de nós se ninguém produzisse sapatos e meias, só porque alguns membros da sociedade só querem "fazer o que gostam"? Pediatras e obstetras atendem às 2 da manhã. Médicos e enfermeiras atendem aos sábados e domingos não porque gostam, mas porque isso tem de ser feito.

Empresas, hospitais, entidades beneficentes estão aí para fazer o que é preciso ser feito, aos sábados, domingos e feriados. Eu respeito muito mais os altruístas que fazem aquilo que tem de ser feito do que os egoístas que só querem "fazer o que gostam".

Então teremos de trabalhar em algo que odiamos, condenados a uma vida profissional chata e opressiva? Existe um final feliz. A saída para esse dilema é aprender a gostar do que você faz. E isso é mais fácil do que se pensa. Basta fazer seu trabalho com esmero, bem feito. Curta o prazer da excelência, o prazer estético da qualidade e da perfeição.

Aliás, isso não é um conselho simplesmente profissional, é um conselho de vida. Se algo vale a pena ser feito na vida, vale a pena ser bem feito. Viva com esse objetivo. Você poderá não ficar rico, mas será feliz. Provavelmente, nada lhe faltará, porque se paga melhor àqueles que fazem o trabalho bem feito do que àqueles que fazem o mínimo necessário.

Se quiser procurar algo, descubra suas habilidades naturais, que permitirão que realize seu trabalho com distinção e o colocarão à frente dos demais. Muitos profissionais odeiam o que fazem porque não se prepararam adequadamente, não estudaram o suficiente, não sabem fazer aquilo que gostam, e aí odeiam o que fazem mal feito.

Sempre fui um perfeccionista. Fiz muitas coisas chatas na vida, mas sempre fiz questão de fazê-las bem feitas. Sou até criticado por isso, porque demoro demais, vivo brigando com quem é incompetente, reescrevo estes artigos umas quarenta vezes para o desespero de meus editores, sou superexigente comigo e com os outros.

Hoje, percebo que foi esse perfeccionismo que me permitiu sobreviver à chatice da vida, que me fez gostar das coisas chatas que tenho de fazer.

Se você não gosta de seu trabalho, tente fazê-lo bem feito. Seja o melhor em sua área, destaque-se pela precisão. Você será aplaudido, valorizado, procurado, e outras portas se abrirão. Começará a ser até criativo, inventando coisa nova, e isso é um raro prazer.

Faça seu trabalho mal feito e você odiará o que faz, odiando a sua empresa, seu patrão, seus colegas, seu país e a si mesmo.

Publicado pela Editora Abril, na Revista Veja, edição 1881, ano 37, nº 47, 24 de novembro de 2004, página 22

terça-feira, 4 de outubro de 2011

O Sucesso Consiste Em Não Fazer Inimigo



Nas relações humanas, no trabalho, existem apenas 3 regras básicas

Regra número 1:

Colegas passam, mas inimigos são para sempre.
A chance de uma pessoa se lembrar de um favor que você fez a ela vai diminuindo à taxa de 20% ao ano.
Cinco anos depois, o favor será esquecido.
Não adianta mais cobrar.
Mas a chance de alguém se lembrar de uma desfeita se mantém estável, não importa quanto tempo passe.
Exemplo: se você estendeu a mão para cumprimentar alguém em 1997 e a pessoa ignorou sua mão estendida, você ainda se lembra disso em 2007.

Regra número 2:

A importância de um favor diminui com o tempo, enquanto a importância de uma desfeita aumenta.
Favor é como um investimento de curto prazo.
Desfeita é como um empréstimo de longo prazo.
Um dia, ele será cobrado, e com juros.

Regra número 3:

Um colega não é um amigo.
Colega é aquela pessoa que, durante algum tempo, parece um amigo.
Muitas vezes, até parece o melhor amigo.
Mas isso só dura até um dos dois mudar de emprego.
Amigo é aquela pessoa que liga ou envia um E-Mail para perguntar se você está precisando de alguma coisa.
Ex-colega que parecia amigo é aquela pessoa que você liga para pedir alguma coisa, e ela manda dizer que, no momento, não pode atender.
Durante sua carreira, uma pessoa normal terá a impressão de que fez um milhão de amigos e apenas meia dúzia de inimigos.
Estatisticamente, isso parece ótimo.
Mas, não é. A “Lei da Perversidade Profissional” diz que, no futuro, quando você precisar de ajuda, é provável que quem mais lhe poderá ajudar será exatamente um daqueles poucos inimigos.
Portanto, profissionalmente falando, e pensando em longo prazo, o sucesso consiste, principalmente, em evitar fazer inimigos. Porque, por uma infeliz coincidência biológica, os poucos inimigos são exatamente aqueles que têm boa memória!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Alienando

Pois é... Ainda uso e-mail... Tão antiquado, não?
Ah, e excluí o twitter também (Facebook, aguarde-me)


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pensamento recorrente...

MetasÉ...
-> Ser "bem sucedido" (leia-se: ter um trabalho pomposo)
-> Ter carrão, casa, usar roupas bacanas, tudo bacana
-> Estar num ótimo grupo social e frequentar lugares "chiques"
-> Ir pra Disney (Oo)

(...)

Quer saber? Não quero!
Não são meus valores! [dedo em riste]
Quero sossego e simplicidade.... 

(...)

Ok... Sossego e simplicidade também custam caro...

(to be continued...)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Há os indignados e há os bananas


O Brasil e a Índia têm nota igualmente baixa, aliás próximas uma da outra, no IPC, o Índice de Percepção de Corrupção da Transparência Internacional, respeitada ONG que mede não a corrupção propriamente dita, porque é "imedível", mas como ela é percebida em cada país.

A nota do Brasil, no IPC mais recente, foi 3,7; a da Índia, 3,3. Ambos os países a anos-luz da Dinamarca e seus 9,3, a primeira colocada em limpeza.

Se a percepção é parecida no Brasil e na Índia, então a reação em cada país também é parecida, certo? Errado, completamente errado. Na Índia, Anna Hazare, militante anti-corrupção, está iniciando nesta sexta-feira uma greve de fome em um parque público, acompanhado por milhares de seguidores.

No Brasil, o pessoal manda cartas indignadas para os jornais, mas não tira o traseiro da cadeira para se manifestar.

A repercussão das diferentes atitudes é inexoravelmente diferente: o movimento de Hazare está em todos os meios de comunicação de respeito no mundo todo, Brasil inclusive. Já a passividade do brasileiro ganhou uma perplexa coluna de Juan Arias, notável jornalista espanhol (um respeitado "vaticanólogo", aliás), hoje correspondente de "El País" no Brasil.

Arias se perguntava porquê não havia no Brasil nada nem remotamente parecido com o movimento dos "indignados" que não sai das ruas da sua Espanha (sólido crítico do Vaticano, aposto que Arias, se estivesse em Madri, estaria nas ruas agora, ao lado dos que protestam contra o que consideram gastos excessivos para receber o papa Bento 16, em um momento de aperto orçamentário generalizado).

O que chama a atenção, na comparação Brasil x Índia, é o fato de que os escândalos mais recentes no gigante asiático têm pontos de contato com o noticiário brasileiro.

Há, por exemplo, fundadas suspeitas de gastos abusivos para organizar os Jogos da Commonwealth, a comunidade de países que foram colônias britânicas. No Brasil, a organização da Copa do Mundo-2014 está cercada de temores, mas ninguém, até agora, fez qualquer protesto público parecido com o da Índia.

Nesta, há também suspeitas sobre negociatas no setor de telecomunicações. No Brasil, uma empresa do ramo comprou outra, o que era proibido por lei. A empresa foi punida? Não, a lei foi modificada (no governo Lula), para permitir o negócio. Você ouviu falar de alguma manifestação a respeito?

Se você preferir outra comparação, mudemos de continente e fiquemos aqui nas imediações: os estudantes chilenos, como os indignados espanhóis, não saem das ruas, exigindo educação pública e de qualidade. Preciso dizer que, em todas as avaliações internacionais comparativas, o Brasil fica sempre nos últimos lugares? Os estudantes brasileiros se mobilizam? Sim, para exigir meia entrada nos cinemas, atitude positivamente revolucionária.

Difícil escapar à constatação de que não somos indignados e, sim, bananas.


Clóvis Rossi, é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às terças, quintas e domingos no caderno Mundo. É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo e "O Que é Jornalismo". @RosClo

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Filho no mundo

0 Ando com medo... Percebi isso hoje, ao lembrar de um filme...
Não por essa violência cotidiana que a mídia explora pra vender hora e outra. Isso não me impressiona tanto... (Sim, overdose de exposição a coisas ruins prejudica a sensibilidade mesmo...)

O que me dá calafrios é esse entrincheiramento nos discursos moralistas e religiosos por uma parte da sociedade.
São procuradores (auto-intitulados) do "Senhor", defensores da "Família", dos "bons costumes" e de uma "moral" oportunista que me preocupam.
É ver líderes religiosos, políticos, ou mesmo personalidades exercendo sua "liberdade de expressão" para alimentar intolerância e fornecendo justificativa para atitudes covardes como espancar pessoas gratuitamente...

Atitudes covardes como dizer, preventivamente: "prefiro ter um filho morto do que gay"
Não se imagina a quantidade de pessoas que se suicidam por não conseguir lidar com a questão, com a pressão e violência emocional constante...
Fora as que não vivem, por não verem outra saída senão esconderem-se do mundo e de si mesmas.

Chega uma hora em que a gente se sente tão sufocado com uma sensação de estar em um mundo inóspito...
Como não reagir a declarações de que você é errado, moralmente corrupto, anormal, pecador, nojento, etc?
Tentam incutir uma lavagem cerebral para, se não for por medo, que se censure por vergonha.

E como reagir?
Vejo críticas dizendo que há exagero em tudo que é manifestação por direitos, que não há por que reclamar...
Queria ver quem se disporia à experiência de passar um ano sem tocar com carinho, abraçar ou muito menos beijar alguém que ama em público... (pra citar um dos aspectos)

Lembro que já sofri agressão verbal e até com objetos por me permitir ser livre e encarar a vida com naturalidade.
Já até peitei autoridade querendo abusar do poder, usando o cargo pra tolher minha liberdade ¬¬

Mas, ando com medo de como as coisas serão...
Lembrei do filme "Milk"...