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quarta-feira, 5 de março de 2014

12 anos de escravidão

"Escravo" Salomon, aderindo ao coro de louvor com outros escravos.

"12 Years a Slave" é de uma agudeza e força desconcertantes. O diretor inglês Steve McQueen traz à luz das telas a história* de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um negro liberto que sofre um revés: é enganado e vendido como escravo no sul dos EUA, longe da família e da vida que construíra em Nova York. (*Base em fatos descritos pelo próprio Solomon, em livro homônimo à película)

O sequestro de um homem livre é simbólico e serve de passaporte para nos conduzir à empatia, fazendo sentir as veias pulsarem no pescoço enquanto estranguladas pelo peso daquela história, nos coagindo então a manter os olhos abertos a tudo que grita silenciosamente no filme: a solidão; a segregação pelo medo (este, quase um idioma à parte); o vazio de não ter alternativa senão a submissão conformada, a entrega ao "destino". Doloroso...

O tom cândido das imagens e a brisa tranquila contrastam com a objetificação e a violência, as quais paulatinamente vão transformando a vida em algo latente.

Por vezes, a sensação é de estar assistindo a uma tourada, com o bicho sendo espetado, morto aos poucos: dentro do jogo há os que aplaudem e fora ficam os que compadecem algo impotentes (Picasso nos deixou tal sentimento competentemente retratado em seus infindáveis touros...)

Escrava Patsey (Lupita Nyong'o) com uma pedra de sabão na mão.

Não é uma peça panfletária e nem faz apelos emocionais desnecessários (ou sentimentalismo), até porque a História basta-se. Não se sobressaem clichês. É honesto o filme.

Delineia-se claramente, cruamente, o humano, inclusive no que há de pior. E este pior dá relevo ao aspecto "cristão" dos senhores de escravos - os quais, contraditoriamente, tomam por animais os mesmos seres que catequizam para o Céu (lá seriam todos apenas homens, finalmente?).

Merecido o Oscar 2014 de melhor filme.