quinta-feira, 8 de setembro de 2005

Do direito à vida e do direito sobre a vida

Até onde deve ir o poder da sociedade, do Estado, sobre o indivíduo?

Todos, em termos, temos o direito natural à vida. Mas, quando a vida torna-se definitivamente insuportável, torna-se também uma dolorosa obrigação. Na verdade, não é a vida que se prolonga, é o ato de morrer.

Deveria caber tão somente ao indivíduo a decisão sobre abreviar ou não o sofrimento, escolhendo uma morte que lhe parecesse mais digna. Covas fez isto à sua maneira, interrompendo seu tratamento contra o câncer.
Poderia ser mais fácil, mas sociedades e Estados puritanos estão longe de ceder. Estão longe de permitir ao médico prestar ajuda ao paciente no sentido de aliviar os sintomas, tornando o processo mais suportável.

Há países (Holanda e Bélgica, creio) que permitem a eutanásia em casos extremos e isso é bom, porque denota que os concidadãos têm, também, direito SOBRE suas vidas, sobre seus corpos.
Claro que esse direito deve ser algo regimentado, pois, caso contrário, qualquer um que não estivesse satisfeito com a "coisa" poderia abreviar-se do mundão, não é? O caso que defendo é o extremo, não o "banal".

Entretanto, a questão que vejo realmente fundamental é: quando o próprio indivíduo não pode decidir por si só (inconsciente). Com o vertiginoso avanço da ciência, medicina, farmacoquímica etc, isso tornou-se mais freqüente.
Mesmo os médicos sabem quando entregar "nas mãos de Deus", isto é: se morrer, morreu (o que não caracteriza eutanásia). Isso, no corre-corre de uma UTI...
Quando transportamos a decisão para a análise fria, em família, a coisa muda e envolve sentimentos e moralismos. Acho que a decisão, por si só, já é suficientemente cruel para quem carrega o peso de decidir... (sem mais)

Todos vamos morrer um dia. É tão legítimo o direito SOBRE a vida (decidir), quanto o direito à vida (viver). Já discuti isso em casa e, em todo caso, ainda pretendo deixar por escrito; talvez assim ninguém sinta-se tão culpado por permitir o óbvio...

PS: Recomendo os filmes Mar Adentro, sobre um tetraplégico que lutou na Justiça Espanhola por 3 décadas pelo seu direito de morrer, e Você não conhece o Jack, sobre o caso do médico Jack Kevorkian, o"Dr. Morte" nos EUA. Pra pensar...

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