domingo, 11 de setembro de 2005

O Internetês nosso de cada dia

Certa vez, assisti a um documentário/debate na TVE, em que se expunha o uso de siglas, mutações e abreviações de palavras, enfim: o "internetês" adotado pela garotada na internet (não só a garotada). Achei interessante...

Fizeram observações diversas e, dentre as que recordo: que esta forma de comunicar-se estaria, de certo modo, fazendo uma regressão no tempo. Regressão porque, citando exemplo, o acento gráfico agudo (´) fora criado para substituir o uso do "H", que o "internetês" ressucitou: eh, ateh...
Uso que, talvez pela origem etimológica de nosso idioma ser latina, era freqüente; e que persiste atualmente em interjeições como "ah" e "oh" e, por razões diferentes, em palavras como "hoje" e "horta" (nem precisa dizer que os radicais hort e ort distinguem). Isso sem mencionar os demais acentos, sobretudo os que expressam nasalidade (~ e ^) e outras peculiaridades do "internetês".

Lembro ter lido em livros de nossa literatura palavras com grafia similar e, numa cidade vizinha à minha, há um prédio antigo cuja fachada ainda conserva a inscrição 'Machina de Arroz'. Não deveria soar estranho na época...

Ainda no tal programa, reconheceu-se que, embora nada ortodoxo, o "internetês" seja uma forma inteligente de ilustrar os vocábulos, atendo-se aos fonemas para representar os signos lingüísticos.
Não sei não... Mas analisemos:
Sem prender-se à etimologia, qual a diferença -interpretativa- de se escrever "q naum kero sorvete d xocolate aki ou akolah" ou "que não quero sorvete de chocolate aqui ou acolá"?

Pode até ser divertido (eu não o acho), como fácil. O que gera, numa perspectiva, um grande problema: crianças com dificuldade de leitura têm maior facilidade de assimilar esta linguagem, pois pode-se escrever exatamente como se ouve, acabando -negligentemente- por empregá-la no dia-a-dia. Além do que, é imprescindível saber a forma não contracta das expressões/palavras antes de sair abreviando tudo (pq, vc, hj, bjo...). Urge incentivar a leitura!

Vejo o uso abusivo ou inapropriado como condenável e confesso que tive problemas em administrá-lo... Mas, como a língua é um organismo vivo, em constante mutação, deixo uma questão (que é o ponto onde queria chegar):

Se isto perdurar e seguir mais além, será que algo poderá mudar em nossa forma de escrever?

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