sábado, 11 de agosto de 2012

O salto alto masculino está voltando?

Se lhe pedissem para descrever a primeira coisa que lhe viesse à mente ao imaginar um macho da nossa espécie equilibrando-se sobre um sapato com salto alto, provavelmente ocorreria uma dessas duas cenas:
1 - o pobre indivíduo em briga para manter-se de pé feito peão montando cavalo bravo;
2 - alguém de cabelos compridos, saia?, maquiagem e voz mais difícil de disfarçar quanto o "pacote" do sujeito (no caso de não ter feito vaginoplastia).

Estivéssemos na Roma antiga, seriam prontamente identificadas como prostitutas as mulheres ou as representantes desse "terceiro sexo" que desfilasse suas pernas sobre essas peças de tortura da moda. Quase um crachá de "profissional do séquiçu" (sic) - profissão legalizada por lá, naquela época, diga-se de passagem. Hoje em dia são estigmatizadas independente do que calcem...

Em geral, o sapato (e salto) em diversas culturas, oriental, ocidental (incluindo a romana), distinguiam as classes mais altas das demais (mais alto, mais importante). Não era mera expressão de feminilidade, mas de poder. Assim, não é de se espantar que homens usassem e ostentassem salto alto, em especial os baixinhos.

O estiloso Rei-Sol (Luiz XIV, França, séc. XVII), devido à posição que ocupava, é dos casos mais notórios da nobreza elevando os calcanhares. E justamente por remeter à nobreza, à aristocracia, decaiu definitivamente no gosto masculino com a Revolução Francesa (séc. XVIII).

Resgatado entre as mulheres, é hoje tabu entre homens. Nenhum, que não se travista de mulher, arriscaria imitar Carrie Bradshaw (personagem do seriado Sex And The City) e colecioná-los como se fossem selos pra combinar com a camisa do dia.

Porém, como o relacionamento do bicho homem com o besteirol a que chamamos Moda é tão cheio de idas e vindas quanto político corrupto, aquela peça cafona cheirando a naftalina no guarda-roupas pode voltar um dia. Naftalina é o cheiro do "novo". Será? Será que um dia desses a machaiada volta ao salto? (cá entre nós, prefiro patins ^^)

Perceba o que vem ocorrendo com os tênis de marca (e os vira-latas também), os amortecedores a mola, a ar, a qualquer coisa. Não acredito que haverão ao montes nas ruas rapazes como os do Kazaky (aquele grupo narcisista se requebrando com Madonna no videoclipe da música "Girl Gone Wild"), mas...

sábado, 26 de maio de 2012

Gravata: Boa Constrictor

tie snake

Sem cinto as calças caem, o que é bastante desagradável. Sapatos separam os pés do chão,meias separam os pés dos sapatos. E ainda diminuem o chulé, o que não é pouco. Calça, camisa, cueca ­ entendo perfeitamente bem a razão para usar essas coisas. Mas... para que diabos serve a gravata? Já me disseram que é para esconder os botões da camisa. Arrã. Então tá. Quer dizer que esse pessoal bem arrumado usa gravatas de seda de 300 reais porque morre de vergonha de exibir botões de plástico. Por 300 reais deve dar para fazer botões de rubi.

Calma, calma, elegante leitor. Não estou dizendo aqui que acho que as roupas só valem pela utilidade delas. É claro que eu entendo a importância da moda ­ embora tenha de confessar que nunca me dei muito bem com ela nem ela comigo. Roupas servem para um monte de coisas além de proteger e esconder o corpo ­ elas definem identidade, denotam estados de espírito, passam mensagens. Será que é para isso então que serve a gravata? Para passar uma mensagem?

É claro que sim, e não tenho dúvida sobre qual é a mensagem. Aquele pano pendurado no pescoço grita para quem estiver por perto: “Ei, olha aqui como eu sou importante!” É um código simples, rápido, direto, que todo mundo entende na hora: no meio da multidão, os que estão de gravata são dignos de atenção, de direitos, de mil gentilezas e mesuras. Os de gravata comandam. Os sem gravata obedecem. É assim. Não é à toa que agora tem essa moda de engravatar os seguranças particulares. rolleyes

Não é engraçado que coisas assim ainda existam em nossa sociedade? Gostamos de achar que tudo em nosso mundo ­ ocidental, urbano, secular ­ é racional, democrático.Mesmo assim, continuamos usando sinais bem pouco sutis de diferenciação social, como naquelas sociedades que gostamos de chamar de “primitivas”. É quase como se fôssemos trabalhar de cocar e contássemos com atenção as penas do sujeito ao lado para saber se ele vale mais ou menos do que nós. Bizarro, enfim.

Por favor, não me entenda mal. Não estou aqui declarando guerra às gravatas, nem aos usuários delas. Uma das utilidades das roupas, que eu não mencionei lá em cima, é deixar as pessoas confortáveis, e tem muita gente que só se sente confortável de gravata. Eu, com essa minha mania de ser do contra, já passei muitas vezes pela sensação de ser o único sem gravata num lugar. Sei o quanto isso pode ser desconfortável, mais até do que o sufocamento do colarinho. Cada um cada um, já dizia minha avó. Que use gravata quem quer.Mas será que ainda faz sentido que algumas empresas continuem exigindo que as pessoas enrolem o pescoço num trapo apertado ao acordar de manhã? Será que ainda faz sentido que nós continuemos medindo o valor das pessoas pela quantidade de penas no cocar? ("Acabo de lançar uma campanha cívica. Desengravatemos nossas vidas!", por Denis Russo Burgierman)

Faltou acrescentar o descabimento de usar determinadas vestimentas e acessórios em determinado clima... Assim como carregar sobre o nariz um par de óculos escuros em plena noite (a não ser que você seja Bono Vox diante dos refletores em algum show)

Relacionado:
Gravata surgiu para limpar suor e virou símbolo do poder masculino, por Giovana Sanchez, no G1: "O homem enrola e amarra pedaços de pano ao redor do pescoço há centenas de anos(...)"

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Tara Silvícola

Até onde é interessante aquele olhar através dos óculos escuros? Com que freqüência mesmo aquela lingerie matadora ilustra fantasias? Se tudo se acaba naquele momento em que você pega no cabelo duro moldado por gel, laquê... Naquele aroma de essência amarga no lugar do cheirinho quente do pescoço... (Ou numa conversa insossa, com menos sorte )

Nada como o cheiro natural, o gosto de boca e aquele abraço-gostoso-de-abraçar... O resto é engenharia...

O odor perfumado não é apenas misofobia [aversão ao sujo, a germes], mas um complemento ao culto ao corpo "perfeito", cabelos bonitos, roupas bonitas, atitude isso e aquilo, do melhor "produto" para consumo/desejo.

Cuidar-se, fazer uns afagos ao ego e sentir-se bem e seguro consigo mesmo é saudável, é demonstração de um pouco de amor próprio até. De novo: até que ponto?

Eu acho legal despir-se dos cosméticos um pouco, o que inclui não se encher de cremes pra ir dormir... (Rir também enruguece, e aí? ) Pôr aquela camiseta velha, chinelos, aquele short conveniente [?], ou simplesmente jogar-se nu a pele e pêlos (pêlos?), sem pudores... Afinal, tal coisa "dispensa fardamentos" (sic).

Há outras bobagens, como a que ouvi hoje:
_ A gente fala "sexo" pra algo mais casual; com quem a gente gosta a gente faz "amor", disse Fulano.
_ Aham... Tá bom que só porque gosta você vai puxar o cabelo, falar putaria, até cuspir lá e vai chamar isso de "fazer amor"..., disse o Beltrano aqui.

Maqueagens sociais que nós, bobos macaquinhos pelados, vamos inventando pra tornar o mundo civilizado mais chato...

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Intolerância religiosa

Sou ateu e mereço o mesmo respeito que tenho pelos religiosos.

A humanidade inteira segue uma religião ou crê em algum ser ou fenômeno transcendental que dê sentido à existência. Os que não sentem necessidade de teorias para explicar a que viemos e para onde iremos são tão poucos que parecem extraterrestres.

Dono de um cérebro com capacidade de processamento de dados incomparável na escala animal, ao que tudo indica só o homem faz conjecturas sobre o destino depois da morte. A possibilidade de que a última batida do coração decrete o fim do espetáculo é aterradora. Do medo e do inconformismo gerado por ela, nasce a tendência a acreditar que somos eternos, caso único entre os seres vivos.

Todos os povos que deixaram registros manifestaram a crença de que sobreviveriam à decomposição de seus corpos. Para atender esse desejo, o imaginário humano criou uma infinidade de deuses e paraísos celestiais.

Mãos Entrelaçadas, do PortinariJamais faltaram, entretanto, mulheres e homens avessos à interferências mágicas em assuntos terrenos. Perseguidos e assassinados no passado, para eles a vida eterna não faz sentido. Não se trata de opção ideológica: o ateu não acredita simplesmente porque não consegue. O mesmo mecanismo intelectual que leva alguém a crer leva outro a desacreditar.

Os religiosos que têm dificuldade para entender como alguém pode discordar de sua cosmovisão, devem pensar que eles também são ateus quando confrontados com crenças alheias.

Que sentido tem para um protestante a reverência que o hindu faz diante da estátua de uma vaca dourada? Ou a oração do muçulmano voltado para Meca? Ou o espírita que afirma ser a reencarnação de Alexandre, o Grande? Para hindus, muçulmanos e espíritas esse cristão não seria ateu?

Na realidade, a religião do próximo não passa de um amontoado de falsidades e superstições. Não é o que pensa o evangélico na encruzilhada, quando vê as velas e o galo preto? Ou o judeu quando encontra um católico ajoelhado aos pés da virgem imaculada que teria dado à luz ao filho do Senhor? Ou o politeísta, ao ouvir que não há milhares, mas um único Deus?

Quantas tragédias foram desencadeadas pela intolerância dos que não admitem princípios religiosos diferentes dos seus? Quantos acusados de hereges ou infiéis perderam a vida?

O ateu desperta a ira dos fanáticos, porque aceitá-lo como ser pensante obriga-os a questionar suas próprias convicções. Não é outra a razão que os fez apropriar-se indevidamente das melhores qualidades humanas e atribuir as demais às tentações do diabo. Generosidade, solidariedade, compaixão e amor ao próximo constituem reserva de mercado dos tementes a Deus, embora em nome d’Ele sejam cometidas as piores atrocidades.

Os pastores milagreiros da TV, que tomam dinheiro dos pobres, são tolerados porque o fazem em nome de Cristo. O menino que explode com a bomba no supermercado desperta admiração entre seus pares, porque obedeceria aos desígnios do Profeta. Fossem ateus seriam considerados mensageiros de satanás.

Ajudamos um estranho caído na rua, damos gorjetas em restaurantes nos quais nunca voltaremos e fazemos doações para crianças desconhecidas, não para agradar a Deus, mas porque cooperação mútua e altruísmo recíproco fazem parte do repertório comportamental não apenas do homem, mas de gorilas, hienas, leoas, formigas e muitos outros, como demonstraram os etologistas.

O fervor religioso é uma arma assustadora, sempre disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso. Em vez de unir, ele divide a sociedade — quando não semeia o ódio que leva às perseguições e aos massacres.

Para o crente, os ateus são desprezíveis, desprovidos de princípios morais, materialistas, incapazes de um gesto de compaixão, preconceito que explica por que tantos fingem crer no que julgam absurdo.

Fui educado para respeitar as crenças de todos, por mais bizarras que a mim pareçam. Se a religião ajuda uma pessoa a enfrentar suas contradições existenciais, seja bem-vinda, desde que não a torne intolerante, autoritária ou violenta.

Quanto aos religiosos, leitor, não os considero iluminados nem crédulos, superiores ou inferiores, os anos me ensinaram a julgar os homens por suas ações, não pelas convicções que apregoam.